terça-feira, 19 de junho de 2012

Interação professor/aluno no contexto escolar

Autoras

Lízia Ramos e Amélia Porto
Segundo o Aurélio “interação” quer dizer: ação que se exerce mutuamente entre duas ou mais coisas ou duas ou mais pessoas. Portanto, interação professor/aluno implica mutualidade, troca, entre pessoas diferentes. Segundo Souza, 2005:

Como humanos, procuramos nas relações com os outros, algo que nos falta. O aluno não vai à escola somente para aprender conteúdos, bem como o professor, que ao fazer opção pelo magistério, busca algo para além do profissional, também pessoal, da instância da emoção. [...] Portanto, o processo de aprendizagem pode ser beneficiado, quando professor e aluno buscam conhecimento mútuo de suas necessidades, têm consciência de sua forma de se relacionar e percebem as diferenças de cada um ao se relacionar com o outro. SOUZA, (2005)


 Desta forma, a análise da relação entre professor/aluno envolve interesses e intenções. Apesar da importância da existência de afetividade, confiança, empatia e respeito entre professores e alunos, para que se desenvolva a leitura, a escrita, a reflexão, a aprendizagem e a pesquisa autônoma, deve-se considerar também que os educadores não podem permitir que tais sentimentos interfiram no cumprimento ético de seu dever de professor. O valor pedagógico da interação professor/aluno é inegável, pois, mediante essas trocas, constrói-se o conhecimento. Nesse processo, o professor é aquele que incentiva, estimula, ativa e orienta a construção do conhecimento.  ABREU et MASETTO (1990: 115), afirma que

“é o modo de agir do professor em sala de aula, mais do que suas características de personalidade que colabora para uma adequada aprendizagem dos alunos; fundamenta-se numa determinada concepção do papel do professor, que por sua vez reflete valores e padrões da sociedade”.

Segundo Piaget, emoção e aprendizagem não andam separadas, mas alternam-se em uma mutualidade. Portanto, a relação do professor com o aluno é uma relação onde inúmeras emoções são suscitadas.  Para o professor, saber interpretar comportamentos de alunos assim como sua relação com os pais, a sociedade e eles mesmos é um instrumento importante no processo de aprendizagem. Segundo Souza (2005), o aluno, ao chegar na escola, traz de casa o autoconceito, e sua autoestima, a partir da relação que desenvolveu com os pais. O professor, em sala, deve repetir essa experiência, a fim de expandir seu autoconceito e melhorar sua autoestima. Segundo o mesmo autor:

 o professor apresenta-se à criança hierarquicamente mais poderoso, psicologicamente melhor estruturado e com recurso de linguagem mais amplo.  A criança encontra-se, portanto, em uma posição não inferior, mas numa posição mais frágil nessa relação, daí não se poder falar de relação de igualdade. São os diferentes se relacionando num mesmo espaço, onde o professor, melhor equipado, deve fornecer ao aluno, recursos de linguagem, de expressão de emoções e de expressões de sua dificuldade de aprendizagem, para que possa ajudá-lo. SOUZA, (2005)


Dentro desse contexto, a relação professor e aluno é uma relação de poder, na qual o professor, hierarquicamente mais poderoso, deve ser aquele que conduz o processo de ensino e aprendizagem, de forma amigável, estimulando, orientando, incentivando, reforçando e apontando falhas. A autoridade do professor, portanto, é um fato inerente à sua função. Entretanto, essa não é uma relação unilateral, pois a construção do conhecimento acontece mediante o diálogo. Professor e aluno trocam experiências. Mediado pelo professor, o aluno exerce sua atividade cognitiva sobre o objeto de estudo: observa, compara, analisa, constrói e testa hipóteses, classifica, ordena, localiza-se no tempo e espaço, deduz, avalia e julga.

Um dos aspectos a ser destacado na interação professor aluno é a disciplina, entendida aqui como um conjunto de normas comportamentais que podem ser impostas ou serem aceitas livremente pelo indivíduo, regulando o seu comportamento. Quando imposta, temos a heterodisciplina, ou seja, disciplina de fora para dentro. Quando aceita livremente, temos a autodisciplina. Quando construída mediante o diálogo entre professor e alunos, as regras e princípios elaborados tendem a ser mais eficazes, uma vez que passa a ser entendida como uma construção do grupo. São combinados que regem a interação entre os pares e o professor, essenciais à dinâmica em sala de aula.

Algumas sugestões para o desenvolvimento da autodisciplina:

·       Analise e discuta as normas propostas coletivamente, acatando sugestões quando pertinentes, estimulando a participação de todos nesse processo;

·       Privilegie os procedimentos que promovam o autoconceito positivo dos alunos;

·       Evite repreensões em público que possam causar constragimentos, descartando a prática de “rótulos”, usando sanções que de fato sejam educativas e estejam relacionadas ao objeto da repreensão;

·       Justifique as regras propostas e suas necessidades como elementos reguladores de ações no processo interativo;

·       Considere e respeite a história pessoal de cada aluno ao repreendê-lo, explicando-lhe a inadequação de sua conduta.

É muito comum ouvirmos de professores que, evitam atividades de grupo em sala de aula, ou saídas de sala para trabalho de campo, por considerá-las, equivocadamente, como causadoras de indisciplina. Não podemos confundir participação ativa dos alunos no processo de construção de conhecimento, em que a troca de experiências e o diálogo entre os pares se fazem necessários, como indisciplina escolar. A participação ativa dos alunos em sala de aula, e a redução da indisciplina são estimuladas quando:

·       As atividades propostas envolvem desafios que exijam esquemas cognitivos de natureza operativa;

·       São propostos jogos e trabalhos em grupo que exigem interação entre os participantes;

·       As atividades propostas exigem a expressão oral, o falar e o ouvir, formular hipóteses ou externar opiniões e dúvidas;

·       As tarefas são distribuídas e as funções de cada um são preestabelecidas, exigindo comprometimento e responsabilidade no cumprimento das mesmas;

·       As ações docentes são expressas com clareza e sua orientação de conduta junto à turma expresse atitudes seguras expostas e exigidas de forma compreensiva.

Os motivos que levam uma criança a aprender, podem ser os mesmos que a conduzem à não aprendizagem. A busca de prestígio junto ao professor e ao grupo de colegas, ser percebido pelo professor e pelos pais, sentir-se assistido, exigindo cuidados individuais são alguns exemplos. Portanto, estar atento às respostas dos alunos durante o processo de ensino e aprendizagem é outro fator relevante na interação professor /aluno.

Segundo Souza (2005)

A criança aprende para atender à expectativa do professor de aprendizado dela, como também não aprenderá para não atender à essa expectativa, numa tentativa de chamar a atenção ao professor para diversas dificuldades que não sejam propriamente cognitivas, como a dificuldade de socialização, dificuldade de adaptação, ou dificuldade de satisfazer as exigências dos pais. O não aprender pode ser um grito de socorro que a criança faz ao professor, para que esse a ajude. SOUZA (2005)  http://www.psicopedagogia.com.br/opiniao/opiniao.asp?entrID=382

 Portanto, para que o professor possa de fato constituir-se um elemento agregador no processo de ensino e aprendizagem dos seus alunos é importante que conheça os seus alunos, saiba um pouco da história de cada um e os motivos reais que movem o seu ato de aprender, procurando incentivá-los nesse processo. Sua relação com o aluno depende fundamentalmente do clima estabelecido nessa relação, da sua empatia com o grupo, da sua capacidade de dialogar, refletir e discutir, de analisar e compreender os seus alunos, criando pontes entre o seu conhecimento e o conhecimento que constitui a bagagem cultural de cada um deles. Educá-los para as mudanças, para a autonomia, para a liberdade possível numa abordagem global, trabalhando o lado positivo dos mesmos e a sua formação cidadã, incutindo-lhes a consciência de seus deveres e de suas responsabilidades sociais.


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